domingo, 5 de fevereiro de 2012

Marco Antônio Villa, historiador hiperbólico

É uma constatação quase banal afirmar que a oposição parlamentar brasileira passa por um longo e traumático processo de redefinição. Após três derrotas consecutivas em eleições presidenciais, duas com José Serra e uma com Geraldo Alckmin, o PSDB tenta com as forças que lhe restam se livrar de Serra, o DEM se desfaz em praça pública e os partidos menores fogem desesperados em busca de alguma sombra.


Na imprensa, parte considerável dos cronistas de oposição já parou de lamentar a ausência de oposição a Dilma e passou simplesmente a apontar os erros reais ou imaginários do governo, sem muita esperança de que seus textos tenham outro efeito senão o de "fixação de marca". 


Nesse contexto, é bastante divertido analisar aqueles autores que, por uma razão ou por outra, trafegam próximos ao limite da razão. O historiador (sic) Marco Antonio Villa, buscando um lugar ao sol entre os porta-vozes do Lado Negro da Força, tem publicado vários artigos contra o governo Dilma, textos recheados de hipérboles apocalípticas e profecias trágicas. Vou me divertir aqui com um texto recente, no qual Villa trata do "silêncio da oposição". 

O reverso da mentira ou As Quatro Verdades de Aloysio

Em um artigo bastante nervoso publicado esta semana, o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP/PSDB/Serra) acusa o PT de mentir sobre o que aconteceu em Pinheirinho. O artigo é banal. Qualquer um interessado na posição hegemônica sobre o incidente estará melhor servido lendo os textos do porta-voz oficial da oposição, Reinaldo Azevedo. Talvez possa se atribuir ao texto aquele ar etéreo da obra rara, mas isso só porque a oposição parlamentar parece passar seu tempo jogando palitinho nos corredores do Congresso, a espera de algum Godot que lhe traga um fio de esperança, talvez de vitória em 2018, talvez apenas de redenção e descanso. Então uma manifestação assim tem lá seu charme, ainda que pela estranheza do inédito.


Mas pouco interessa, o conteúdo aparente ou o ato em si. Muito mais divertido é o conteúdo implícito, o complemento da escritura senatorial.


Logo  no primeiro parágrafo o autor declara seu objetivo. "Eis as mentiras", clama o Senador da República, "seguidas da verdade". Aloysio tem algo que nós, os não-eleitos, poucas vezes podemos reivindicar para nós. Ele aparentemente tem a Verdade. Vamos ver até onde essa Revelação nos leva.


Vamos antes combinar uma coisa: uma mentira não é uma força newtoniana, à qual sempre corresponde uma verdade de igual intensidade e sentido contrário. O que uma mentira esconde não é uma verdade, mas um interesse. O contraponto de uma mentira é, em geral, ou uma mentira melhor escrita ou uma mentira mais confortável. De qualquer forma, sempre uma mentira que atende a interesses diversos daquela à qual ela se opõe.


Aliás, vamos combinar outra coisa. Meu texto não é a favor do PT, apesar do artigo de Aloysio Nunes se chamar "As mentiras do PT". O senador quer apenas tirar uma casquinha, com vistas à eleição para prefeito no final do ano. O PT mal sabia da existência de Pinheirinho até a ação de desocupação ser executada e certamente não se importava. Os militantes diretamente envolvidos eram da esquerda luminosa do espectro. Me interessa aqui examinar as Verdades de Aloysio, não as mentiras reais ou supostas de seus adversários.


Mas chega de enrolar. Ao texto, cidadãs. Lembrem-se que no que vai abaixo cabe sempre a advertência pseudo-Beckettiana: Qualquer Semelhança com alguma Coincidência terá sido mera Realidade.