segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Reinaldo Azevedo, leitor de Safatle (Introdução)

Introdução (este texto)

É bem provável que, além da Grande Muralha da China, a outra única estrutura humana que se veja do espaço seja o ego de Reinaldo Azevedo. A outra coincidência é que nos dois casos as estruturas servem para proteger uma civilização que já nem existe mais de invasões bárbaras mais imaginárias que reais. A analogia vai mais longe: como a Muralha antes dele,  pensamento de Reinaldo ficou anacrônico ali pelo século XVI.

Nesse sentido, os ataques do colunista a Marilena Chauí e Vladimir Safatle são exemplares. Os dois filósofos tem algo em comum: depois de obterem mestrado e doutorado na França, ambos se tornaram livre-docentes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP antes de completarem 40 anos (um feito raro em qualquer faculdade, quase impossível na Filosofia). Ambos tem uma obra sólida em suas áreas de especialização (vale lembrar que Marilena é considerada uma das maiores especialistas em Espinoza do mundo e que sua tese de livre-docência, "A Nervura do Real", é uma referência essencial para qualquer estudante daquele filósofo). E ambos são excelentes professores (e isso eu sei por experiência própria).

Eu digo tudo isso não para desqualificar previamente os argumentos de Azevedo, mas para deixar claro que ele não está tentando ler textos (ainda que textos "jornalísticos", comentários publicados em jornal e não textos técnicos de Filosofia) de qualquer acadêmico e sim de membros reconhecidos de uma certa elite intelectual brasileira. Gente que sabe bem o que escreve. Nesse caso, os argumentos do colunista deveriam estar ao menos próximos do nível daqueles apresentados pelos objetos de sua ira. Deviam pelo menos mostrar que o autor da crítica entende o que leu. Tragicamente, não será o caso. Reinaldo insiste em contrapor seu senso comum "refinado" a argumentos e termos com sentido razoavelmente preciso, expondo a cada momento tanto sua vasta ignorância sobre os autores citados ou comentados quanto sua incapacidade de interpretação de texto.



O blogueiro da Veja tem uma fixação toda especial pela USP, mais especificamente pela FFLCH. Em parte, isso se explica por sua missão de vida, a defesa de José Serra e todas as coisas serristas. Seus recentes ataques, particularmente virulentos, ao movimento estudantil e aos docentes daquela unidade estão muito ligados à necessidade de proteger os atos insanos de João Grandino Rodas, escolhido por Serra contra a vontade expressa da comunidade acadêmica. Na mesma linha, tais ataques são também preventivos, visam desqualificar desde já qualquer movimento vindo da USP em 2012, um ano eleitoral. Isso tudo torna a produção do colunista nas últimas semanas muito peculiar - não me lembro de algum jornalista se engajando dessa forma nos meandros do processo eleitoral do DCE ou na dissecação das inúmeras correntes do movimento estudantil. Talvez, cansado de pregar no deserto contra esquerdistas de verdade, Reinaldo tenha finalmente resolvido ir brincar com as crianças.

Nas partes seguintes vou analisar os comentários do nosso colunista a dois textos de Vladimir Safatle, um recente de dias e outro de 2009. Será instrutivo para entender melhor como funciona o mundo de Reinaldo, com seus fantasmas, suas interdições ao debate e suas verdades indiscutíveis. Será divertido, para uma certa noção mais ou menos perversa do que seja diversão.

Um comentário:

  1. "Talvez, cansado de pregar no deserto contra esquerdistas de verdade, Reinaldo tenha finalmente resolvido ir brincar com as crianças". Perde até para elas...

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